COSPLAYERS: A fantasia nossa de cada dia!


Toda criança já se vestiu de super-herói, já usou capa, já vestiu uma máscara, tiara de princesa, se fantasiou de professora, de policial e tantos outros personagens do mundo real e imaginário que seus pensamentos puderam alcançar.


Quando crescemos, nossos pensamentos já exploraram tantos outros universos da fantasia, que o repertório já se ampliou enormemente. E às vezes, é possível dar uma passeada por uma galáxia muito, muito distante, onde a fantasia é permitida e compartilhada com um exército de outros fãs.

O cosplayer é a pessoa que pratica a arte do Cosplay, ou Costume Player, ou interpretar um personagem. Em outras palavras, mas não de forma errada, é a pessoa que se veste com os trajes dos personagens de filmes, séries, animações, quadrinhos, mangás, games e algumas outras plataformas da cultura.

“Será que sou maluco por me vestir de algum personagem?” – Pergunte isso para todas as pessoas que visitam as Comic Cons espalhadas pelo mundo e ouvirá a resposta em alto e bom som. Mas caso você ainda tenha dúvida: NÃO, você não é maluco. Mas como tudo na vida, o excesso deve ser observado.

A FUGA DA REALIDADE 
Calma, nem tudo é o que parece. 

Nesse momento vou fazer a divisão de pensamento para que possamos entender um detalhe do meu ponto de vista a respeito do tema. Vou dividir a “realidade” para que possamos compreender melhor e não pecar pela generalização. 

a) Sua realidade é boa, ou relativamente boa: Você estuda, trabalha, namora, é casado, tem a saúde sob controle, não sofre de um problema emocional e tudo caminha tranquilamente no mundo voraz que nos cerca. Porque fugiríamos da realidade? Não é exatamente uma fuga, mas uma forma de brincar, se divertir, indo integrar o universo da fantasia do seu personagem preferido e logo mais você volta para a realidade para lidar com todas as coisas que o mundão cobra sem dó. Ou seja, você sabe integrar a fantasia de forma tranquila e saudável a sua realidade.

b) Sua realidade não é tão boa e existem alguns sofrimentos no meio do caminho: Eventualmente passamos por dificuldades como desemprego, término do relacionamento, conflitos emocionais pesados, brigas familiares, doenças, e tantas outras coisas possíveis. Um dia resolvemos que podemos DESCANSAR DESSE MUNDO CRUEL e vestimos a fantasia, traje ou armadura que gostamos tanto e vamos até o jardim do mundo para descansar a cabeça dos problemas que temos no mundo real. Sim, fugimos da realidade para nos divertir e logo depois voltamos para as nossas vidas para continuar a batalha nossa de cada dia em busca de resolver nossas situações. O cosplay pode ser um alívio, uma válvula de escape, assim como pessoas com muitos problemas vão para estádios com camisetas de seus times (mesmo não sendo jogador!!!), se sentem integrantes de um grupo, gritam, brincam, extravasam e depois voltam pra casa felizes.

c) O mundo é pesado demais e a vida não ajuda, então eu me abrigo na fantasia.

Nesse caso a vida é tão pesada quanto no caso anterior, mas a fuga da realidade começa a perder o controle. 
Já viram o caso de pessoas que fazem milhões de cirurgias plásticas para ficarem parecidas com os personagens da ficção que ele mais admira? Pessoas que começam a acreditar de verdade, que algo do universo da fantasia é real e vive entre nós. Por exemplo, pessoas que acreditam na Força e se convertem ao Jedismo, pessoas que escrevem o nome do inimigo num Death Note (eu hein!?), que acreditam que vivemos dentro da Matrix ou coisas do tipo. 
Nesses casos, viver um personagem em tempo integral, acreditar que é possível encolher com pílulas de nanicolina, ou que suas almofadas são na verdade o Cosmo e a Wanda, pode ser um sinalzinho de que a realidade está insuportável demais, a ponto de que a fantasia se torna muito mais interessante. E acredite: isso é perigoso!

VOZES NA CABEÇA E AFINS

Lembra do estereótipo do louco vestido de Napoleão? Então, qual a diferença entre uma pessoa que sabe que é Napoleão e outra que sabe que é um Cavaleiro Jedi? Nenhuma. Ambos em algum momento da estrada da realidade pegaram um atalho e se perderam no caminho. Isso pode acontecer por um trauma emocional muito grande, seja solidão, bullying, depressão ou uma predisposição genética. Esses casos mais graves, como de pessoas que descolam involuntariamente da realidade, ouvem vozes, acreditam ser outras pessoas, que possuem super poderes e afins e isso é enquadrado no código F20 do DSM-IV, o Manual de Diagnósticos de Transtornos Mentais, como Esquizofrenia. Nesse quadro, a pessoa perde a capacidade de dissociar a realidade da fantasia, apresenta alucinações, delírios e alguns outros sintomas bastante graves. O tratamento acontece com medicação e terapia para controlar e abrandar os sintomas. E apesar de poder ser “divertido” para aqueles que romanceiam a fantasia, isso é triste, grave e precisa de cuidados.

É SÓ SABER O LIMITE! 
Faz bem estar lá e aqui, conforme a nossa vontade. 

Às vezes nos afundamos em maratonas de séries, em jogos de computador, mergulhamos em algum livro e eventualmente somos “intensos demais” (para não falar exagerados ou descontrolados), vestindo o personagem que escolhemos para aquele momento das nossas vidas. Quando buscamos refúgio em algum “universo paralelo” para descansar do peso da realidade e não sabemos a hora de voltar, essa fuga pode estar sinalizando o tamanho do problema que não estamos sabendo lidar no mundo real. Nesses casos, busquem atividades que permitam contato com pessoas de outros círculos culturais, faça passeios a céu aberto e não tenha medo de pedir ajuda aos amigos e parentes. 

Sempre falo que muitos personagens, filmes e desenhos ajudaram a formar a minha personalidade. E é verdade! Cresci assistindo Jaspion, Changeman, Star Wars, He-Man, Caverna do Dragão e muitos outros desenhos e a cultura Pop, seja essa sazonal da moda ou aquela que me traz lembranças e me alimenta até hoje, faz parte da minha vida e de quem eu sou. Mas não posso deixar que tudo isso interfira da minha formação social, familiar, profissional e principalmente de identidade.

Entende que negar a própria identidade para assumir a identidade fictícia de um personagem é querer deixar de lado todos os problemas da vida real e viver somente as vantagens e desvantagens pré-determinadas pela ficção? 

No fim das contas, a ficção pode fazer parte da nossa vida de forma saudável. Mas não podemos fazer da nossa vida a ficção que gostamos tanto de assistir. 

André Correia
Psicólogo Clínico
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